Genética
Vários termos genéticos importantes
Genótipo: constituição genética do indivíduo.
Fenótipo: aparência do indivíduo em parte como consequência do seu genótipo e ambiente.
Loci (pl) Locus (sing): localização específica de uma característica (alelo) num cromossoma. Um par de alelos (gene) tem loci iguais cada um transportando um diferente alelo podendo ou não ser afectados por esses outros alelos.
Gene: unidade de informação hereditária. É uma zona específica do DNA dos indivíduos que contém codificada a informação para a síntese de uma determinada proteína.
Alelo: cada umas das formas alternativas de um gene, que pode ocupar o respectivo locus e cujo número varia. A representação normal é feita por meio de uma letra.
Cromatina: substância localizada no núcleo da célula envolvida pela mesma membrana (rede corável), que contém os cromossomas.
Cromossoma sexual: cromossoma X, determina o sexo. No caso de aves e borboletas, o sexo masculino tem dois cromossomas X, o feminino tem um cromossoma X. Acontece o contrário com todas as outras espécies de animais e com o homem.
Cromossoma X: cromossoma sexual, existe duplamente nas aves e borboletas, no sexo feminino apenas uma vez; em todas as espécie dos animais e no homem dá-se o caso inverso. Factores hereditários que estão no cromossoma X passam a herança ligados ao sexo.
Crossing over: troca de genes.
Autossómico: as características herdadas são regidas pelos genes localizados em cromossomas não determinantes do sexo.
Factores ligados ao sexo ("Sex. - linked"): características herdadas através dos cromossomas sexuais. No caso das aves os machos possuem um par de cromossomas Z e as fêmeas um cromossoma Z e um cromossoma W. Considera-se que estas características estão baseadas no cromossoma masculino Z, podendo ser herdadas numa só cópia pelas fêmeas e em uma ou duas pelos machos.
Di-hibrído: diferenciado em duas propriedades hereditárias.
Homozigóticos: a presença de dois alelos semelhantes no loci correspondente do mesmo gene. Aplica-se a genes autossómicos mas também pode ser aplicado a características ligadas ao sexo nos machos.
Heterozigótico:a presença de dois alelos diferentes nos loci do mesmo gene. Aplica-se a genes autossómicos mas também pode ser aplicado a características ligadas ao sexo nos machos.
Recessivo: características expressas no fenótipo só quando existem dois alelos para essa característica nos loci do mesmo gene, caso contrário o efeito desse alelo não é visível, excepto no caso das fêmeas com mutações ligadas ao sexo.
Dominante: características que são expressas no fenótipo mesmo quando só está presente um alelo. Quando combinadas com um outro alelo recessivo dominam-no.
Dimorfismo: aspectos diferente dos sexos de uma espécie. Pelo cruzamento do cardinalito da Venezuela, esta característica também pode aparecer nos canários (fêmeas mosaicas).
Diplóide: com numero de cromossomas duplo (2n).
Hibridação: produção de híbridos.
Híbridos: diferenciado em propriedades hereditárias.
Incubação: choco.
Mono-híbrido: diferenciado em uma propriedade hereditária.
Portador: indicado "/": indivíduo que embora não o demonstre no seu fenótipo transporta alelos recessivos ou ligados ao sexo mas que estão escondidos por outro gene, podendo mesmo assim ser transmitidos à descendência.
FS: Factor Simples. apenas está presente um alelo para a característica. Usa-se para diferenciar os indivíduos que, expressando um fenótipo dominante não são puros e transportam outros alelos recessivos.
FD: Factor Duplo. Estão presentes dois alelos para a característica. Apenas faz sentido quando usado para identificar indivíduos dominantes puros, i.e., com dois alelos dominantes.
Teste de cruzamento
Este cruzamento é feito com um indivíduo homozigótico recessivo para o factor que se pretende estudar, que facilmente se identifica pelo seu fenótipo e um outro de genótipo conhecido ou não. Por exemplo, se cruzarmos um macho desconhecido com uma fêmea recessiva, podemos determinar se o macho é portador daquele carácter recessivo ou se é puro. Caso este seja puro, todos os filhos serão como ele, se for portador, 25% serão brancos, etc... Esta explicação é muito básica, pois geralmente é preciso um pouco mais do que este único cruzamento.
A limitação destes cruzamentos está no facto de não permitirem identificar portadores de alelos múltiplos para a mesma característica, ou seja, podem existir em alguns casos mais do que dois alelos para o mesmo gene e o efeito da sua combinação variar. Além disso, podemos estar a cruzar para um factor para o qual o macho ou fêmea a testar não são portadores mas serem para outros.
Factores ligados ao sexo
Existem diversas mutações em muitas espécies que são controladas e transmitidas por este mecanismo genético, pelo que é importante que se compreenda o seu funcionamento.
Por definição, e no caso das aves, os factores ligados ao sexo estão no cromossoma sexual masculino Z. Isto é muito importante porque enquanto os outros factores nos cromossomas autossómicos são transportados em pares em todos os indivíduos de ambos os sexos, neste caso, os machos transportam dois cromossomas Z e as fêmeas apenas um. Esta situação é o inverso do que sucede com os mamíferos onde é o sexo masculino que têm uma situação de herozigotia sexual com um cromossomas X e um Y, enquanto as fêmeas são XX.
Quando da fertilização, os óvulos produzidos pela fêmea transportam ou um cromossoma Z ou W ao qual se vai juntar um cromossoma Z proveniente do macho reformando o par ZZ ou ZW conforme a combinação. Assim, todos os genes que a mãe tiver no seu cromossoma Z são passados aos filhos macho (pois recebem um cromossoma Z da mãe), enquanto que os filhos fêmea recebem o cromossoma W ao qual se junta um dos Z do macho. É por isso que com mutações ligadas ao sexo, os machos podem produzir descendência com essa mutação (sempre fêmeas), mas para se produzirem machos também de mutação temos sempre de ter uma fêmea já mutada e um macho no mínimo portador (em que apenas existe o gene mutado num dos dois cromossomas Z).
Selecção artificial
Entende-se por selecção, a escolha não aleatória dos reprodutores de modo a que estes transmitam determinadas características às gerações seguintes. Desde sempre que o homem faz selecção artificial de várias coisas, cruzando animais com força a outros com grande tamanho, plantas de frutos grande com outras que produzem mais frutos, mas de menores dimensões ou melhor qualidade.
Também nas aves se vêem seleccionando à já vários séculos características específicas. Na Idade média faziam-se concursos de tentilhões para ver qual cantava melhor vencendo os seus rivais. Foi assim que se chegou a criar novas espécies, todas as variedades de canário, a partir da ave selvagem.
Para seleccionarmos temos antes de mais que assegurar que aquele casal apenas acasala entre si, pelo que convém separá-lo de outros da mesma espécies e de espécies intercruzáveis. Tem de ser referido um factor que muitas vezes é esquecido por quem começa e por quem já sabe do ofício e leva a desilusões frequentes. Quando se fala de selecção, esta apenas faz sentido numa linha e raramente em indivíduos isolados. Ou melhor, a selecção individual dos indivíduos deve ter em vista a melhoria de uma linha, semelhante ou não. Não podemos esperar que num único cruzamento se melhore a qualidade das aves, isso sucede ao longo das gerações conforme vamos mantendo os melhores exemplares e reproduzindo com eles. É errado pensar que comprando uma ave muito boa se pode fazer milagres, muitas vezes é desperdiçar de tempo e dinheiro, é preciso aprender o que se precisa, o que se tem e o que se quer melhorar nas gerações futuras.
Depois temos de saber o que queremos produzir e como esse factor é transmitido geneticamente. O modo empírico e mais usual é usar aves que mostrem aquela característica específica e cruzá-las entres si, para depois esperar que os filhos demonstrem ainda mais aquele factor, mas nem sempre isto funciona, é mais adequado para trabalhar e melhorar mutações já estabelecidas.
Linhas puras
Uma linha pura é aquela em que todos os indivíduos têm uma constituição genética idêntica e originam descendentes idênticos, sendo o resultado do cruzamento previsível.
Arranjar linhas puras é complicado e envolve muito tempo de trabalho, em especial com espécies que se reproduzem pouco e atingem a maturidade sexual muito tarde.
Para obtermos uma linha pura, nunca podemos trabalhar apenas com uma ou duas aves, nem mesmo com um só casal. Se dispusermos de pelo menos dois casais de origens distintas, mas com as mesmas características que queremos seleccionar, podemos intercruzar os filhos e eliminar todos aqueles que não se enquadrem no pretendido. Desse novo cruzamento devemos obter alguns exemplares puros que depois vamos usar em combinações ou cruzamentos com outras aves para fixar a característica.
Mesmo assim o mínimo para fixar uma linhagem são 3 casais distintos, de preferência 4 ou 5. Só assim podemos garantir que existe suficiente variabilidade genética dentro do efectivo para assegurar uma melhoria nas gerações futuras. A variabilidade genética é a base de toda a evolução, perseguir linhas uniformes é utópico, pois acaba por invalidar avanços futuros. Só podemos escolher os melhores em gerações sucessivas se houver alguns melhores que outros!! E sobretudo melhores que os pais o que se consegue juntando os pontos fortes dos reprodutores.
Consanguinidade
Também na consanguinidade, muitas das vezes comete-se erros. Não existe qualquer problema em cruzar irmãos com irmãos, ou filhos com pais desde que se saiba como fazê-lo. Na realidade este é o método mais rápido e eficaz de fixar uma característica porque a base genética é semelhante.
Quando se faz isto tem de se partir de um casal não relacionado, isto é, os pais nunca poderão ser da mesma linha. O melhor é adquiri-los a vários criadores diferentes. Assim, a descendência que esse casal produz pode ser cruzada entre si escolhendo os melhores exemplares (tamanho, porte, cor). Desse cruzamento escolhemos de novo os melhores mas agora para cruzar com uma ave semelhante de outra linha que não a dos pais ou irmãos. Para exemplo podemos usar uma fêmea e adquirir um outro macho. Deste modo quebramos imediatamente a depressão por consanguinidade nos descendentes do terceiro cruzamento.
Cruzamentos de caracteres recessivos
Para os caracteres controlados por um mecanismo autossómico recessivo temos de produzir reprodutores que sejam homozigóticos recessivos ou, no mínimo, portadores desse alelo recessivo. Só assim conseguiremos obter descendentes que manifestem essa característica.
Partindo de um único macho devemos primeiro produzir uma geração de portadores o que se consegue cruzando o macho recessivo com uma fêmea pura dominante para esse alelo (ou vice-versa). Todos os filhos serão fenótipicamente idênticos à mãe mas portadores do alelo recessivo. Aqui, devemos escolher dois filhos e cruzá-los de modo a obtermos 25% de descendentes que são recessivos tal como o primeiro macho. Esses vão ser acasalados com outras fêmeas de uma outra linha que não a da sua mãe de modo a fazer duas linhas distintas de portadores. Deste modo, conseguimos obter duas linhas com apenas 25% de consanguinidade e que podem ser cruzadas entre si sem grandes problemas.
Os cruzamentos entre dois portadores não são recomendáveis porque nunca poderemos saber quais os filhos portadores e os não portadores, pois estes são fenotipicamente iguais, daí que quando se pretenda evitar o cruzamento de dois recessivos devemos usar sempre ou um recessivo e um dominante (obtendo todos os descendentes portadores) ou então um recessivo e um portador (obtendo 50% recessivos e 50% portadores).
Caracteres recessivos ligados ao sexo
Estes por serem ligados ao sexo, são mais fáceis de trabalhar, pois os machos vão sempre produzir fêmeas recessivas e machos portadores, independentemente da fêmea com que sejam acasalados. Por seu lado as fêmeas vão produzir todos os machos portadores. Para se obter machos recessivos é preciso de que a fêmea seja recessiva e o macho no mínimo portador, o que até é preferível em relação ao acasalamento de dois recessivos neste caso.
Caracteres Dominantes
Os Dominantes são fáceis de trabalhar, no entanto é preciso ter cuidado para não cruzar dominantes com aves portadoras de caracteres recessivos raros ou não, pois nunca iremos saber quais os filhos portadores.
É preciso ter em conta que o Dominante Factor Simples produz 50% de descendentes dominantes e que o gene é tão fácil de reproduzir que pode passar de raro a excessivo num efectivo de apenas 2 ou 3 gerações.