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Planeta Cultural

Acima de tudo, cultura geral

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Violência doméstica: queixa ao fim de 35 agressões

19.10.09, Planeta Cultural

Apenas metade das mulheres vítimas de maus tratos denunciam o agressor.

 

Apenas metade das mulheres vítimas de maus tratos o denunciam e só o fazem, por regra, ao fim de 35 episódios de agressão, revela Susie Johnson, responsável pela Secção para as Mulheres do Washington Office of Public Policy, EUA, citada pela Lusa.

 

A maioria dos crimes ainda é silenciada pela mulheres que vivem aterrorizadas.

 

Maria (nome fictício) tinha entrado nas urgências e estava na ginecologia quando disse que não queria ter alta. As enfermeiras estranharam e Maria acabou por desabafar que era vítima dos maus tratos do marido e tinha medo de regressar a casa.

 

O caso foi revelado esta semana por uma enfermeira, durante um colóquio sobre violência doméstica que decorreu na Escola Superior de Enfermagem, em Lisboa.

 

Mas esta é apenas uma história de um crime que atinge milhares de mulheres. Todos os dias, em Portugal, as forças de segurança registam 76 novos casos de maus tratos. E, regra geral, quando ali chegam, as vítimas já passaram por um longo processo de humilhação e subordinação.

 

A demora em delatar o crime tem várias razões. Além do medo, «normalmente o agressor é o homem em quem sempre confiaram e que amaram e, muitas vezes, é o pai dos filhos», explica a presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ), Teresa Féria.

 

«Se, por um lado, têm medo de que possa voltar a acontecer, também têm a esperança de que as coisas vão mudar. Há todo um relacionamento e carga afectivos envolvidos», acrescenta João Lázaro, secretário-geral da Associação Portuguesa de Apoio à Vitima (APAV).

 

«Muitas vezes, o crime perpetua-se durante anos e anos», sublinha, frisando que, apesar de actualmente existir menos estigma social sobre quem se assume como vítima, ainda «há casos de mulheres que estão assim durante 10, 15 anos ou mesmo 17 anos».

 

O ciclo de violência tem normalmente três fases: começa pela violência física ou psicológica, depois segue-se a fase da lua-de-mel, em que a vítima acredita no agressor, e finalmente a fase da tensão, quando começa uma clara perseguição que vai levar ao crime.

 

«Na psicologia, estas mulheres estão classificadas tal como as vítimas de atentados terroristas», compara a presidente da APMJ, explicando que nem as violações que ocorrem na fase adulta têm tanto impacto psicológico. A razão é simples: o agressor é normalmente um desconhecido.

 

Fonte: TVI 24