Fazer previsões num mercado em que as perspectivas mudam à velocidade da luz é um desafio. A forte pressão vendedora que arrastou os mercados financeiros no arranque do ano levou muitos bancos de investimento a actualizarem as previsões e as suas recomendações em termos de investimento. Apesar destas dificuldades, a BMO arriscou-se a antecipar os três cenários que vão marcar os mercados nos próximos cinco anos.
Esta é já a terceira vez que a BMO, antiga F&C, tenta prever as tendências nos mercados num período a cinco anos. E, até agora, está a ser bem-sucedida. Numa nota de "research" a que o Negócios teve acesso, a gestora lembra que os cenários que delineou no seu último relatório mantêm-se presentes nos mercados. "Nos últimos anos a nossa previsão de persistente baixo crescimento, baixa inflação e taxas baixas tem sido exacta", destacam os especialistas, lembrando que a sua previsão antecipava que as políticas monetárias continuariam a impulsionar o apetite por activos de risco.
A gestora reconhece, porém, que foi obrigada a ajustar as suas "expectativas e restabelecer uma maior probabilidade face a um potencial de queda surpresa, à medida que os riscos para as nossas estimativas, particularmente na China, estavam notavelmente a materializar-se". Depois de ter incendiado os mercados financeiros no Verão passado, na sequência de uma intervenção no mercado cambial, a China voltou a abalar a confiança dos investidores em 2016.
As preocupações em relação à economia chinesa aumentaram os receios de uma recessão a nível global e agravaram a já difícil situação dos mercados emergentes, enquanto os preços das matérias-primas permanecem altamente pressionados. E é a partir desta conjuntura que a BMO traça as suas novas perspectivas para o que poderá acontecer nos mercados mundiais nos próximos cinco anos.
Crescimento nos EUA estende-se à Europa e Japão
O cenário de base da BMO, ao qual a gestora atribui uma probabilidade de 60%, aponta para um período de crescimento económico global, com várias geografias a manterem uma evolução positiva do PIB. "Neste cenário enquanto os EUA continuam a liderar a expansão, face ao resto do mundo, uma recuperação mais equilibrada é previsível na medida em que a Europa e o Japão mostram agora sinais de melhoria e oportunidade", prevê a BMO.
Caso este cenário se confirme, os analistas recomendam a aposta em acções, em detrimento da dívida, dado o ambiente de baixos retornos. Apesar da clara preferência por acções, a gestora alerta que o mercado touro nos EUA está a entrar já no seu oitavo ano, pelo que é necessária cautela.
Os especialistas mandam os investidores serem selectivos. Dentro da Europa, países que são os maiores importadores de petróleo recolhem a preferência, enquanto as acções da periferia merecem uma visão mais pessimista, com uma recomendação de "underweight".
Bancos centrais acertam na fórmula
A acção dos bancos centrais globais deverá continuar a ser determinante para o rumo dos mercados nos próximos anos. Mas, no seu segundo cenário, ao qual atribuem uma probabilidade de 20%, a BMO parte do princípio que os bancos centrais mundiais fazem tudo bem, acelerando uma estratégia focada no risco.
Neste cenário, os analistas reconhecem a possibilidade das medidas do BCE manterem-se no terreno, puxando pela economia na região. Neste cenário, a Reserva Federal começa a subir juros de forma moderada, num processo bem recebido pelo mercado, pois é assumido como um sinal de confiança na economia e a China mantém o seu processo de ajustamento para uma economia mais sustentável.
A fórmula ganhadora para este cenário é a aposta em activos de risco. Os analistas recomendam a exposição a acções mais ligadas ao ciclo da economia e companhias domésticas fora dos EUA, sobretudo nos mercados emergentes.
Erros políticos travam economia
Se no segundo cenário, as assunções dos especialistas destacam a possibilidade de surpresas positivas na economia mundial, no terceiro contexto assumido pela instituição, os analistas reconhecem a possibilidade de um ou vários erros de políticas "resultarem num abrandamento surpresa da economia global".
Esta projecção, que também surge com uma probabilidade de 20%, os analistas referem que decisões monetárias erradas, em que "a Reserva Federal caminha numa corda bamba em que agir demasiado rápido ou falhar a altura certa pode ter um resultado potencialmente desastroso".