Capturamos peixes na idade adulta a uma taxa 14 vezes maior do que os próprios predadores marinhos. E em terra matamos carnívoros do topo da cadeia alimentar natural a uma taxa nove vezes superior.
s seres humanos capturam peixes na idade adulta a uma taxa 14 vezes maior do que os próprios predadores marinhos. E em terra matam carnívoros do topo da cadeia alimentar natural, como leões, lobos, jaguares ou ursos, a uma taxa nove vezes superior à que estes predadores matam os animais que lhes servem de alimento.
As revelações sobre o estatuto de superpredadores que carateriza a atividade atual dos seres humanos são feitas num estudo publicado na revista “Science”, da autoria de uma equipa de investigadores do Canadá ligada à Universidade de Victoria, ao Instituto Hakai e à Fundação Raincoast Conservation.
O problema é que não só matamos outros animais a uma taxa muito maior do que a dos outros predadores, como damos preferência aos maiores animais no estado adulto, tornando cada vez mais difícil a recuperação das suas populações. “Um predador capaz de provocar tal impacto nos ecossistemas poderá levar eventualmente à extinção da sua própria atividade de predação”, antecipa Gerardo Ceballos, um biólogo da Universidade Nacional Autónoma do México citado pela “Science”.
Preferir animais adultos a juvenis é insustentável
A equipa de investigadores canadianos destaca no seu estudo a forma tão acentuada como os seres humanos se concentram na predação dos animais adultos, o que é muito diferente do que se passa no resto do reino animal, onde os juvenis de todas as espécies tendem a ser os mais capturados (explorados).
“Os paradigmas da exploração sustentável focam-se na dinâmica de predação das populações animais mas ignoram o comportamento dos humanos como predadores”, constatam os investigadores, sugerindo que “a função dos seres humanos como 'superpredadores' insustentáveis irá continuar a alterar os processos ecológicos e evolutivos a nível global, se não forem tomadas medidas restritivas adicionais às que hoje já existem”.
Chris Darimont, líder da equipa e cientista da Universidade de Victoria, explicou numa conferência de imprensa que os humanos conseguem caçar animais adultos “a um custo mínimo e com um ganho máximo no curto prazo, porque a uso de tecnologia avançada de caça evita que estejam sujeitos ao perigo das atividades de predação do passado”.
Ou seja, “os caçadores matam mamíferos com balas e pescam com armadilhas e redes, assumindo um risco mínimo quando comparados com os predadores não humanos, em especial os terrestres, que são feridos com frequência nas suas caçadas e têm um modo de vida perigoso”. No mundo natural, as populações de predadores entram em declínio quando a caça escasseia, mas a tecnologia ajuda os seres humanos a ultrapassar esta limitação imposta pela Natureza.
Estratégia de conservação tem de mudar
A maior parte das políticas de conservação das espécies animais hoje existentes está baseada no conceito de que os mais jovens não devem ser caçados, para garantir que a próxima geração vai ter uma grande população. No caso da pesca, a malha das redes é concebida e dimensionada por lei precisamente com o objetivo de deixar escapar os peixes mais jovens.
Mas a equipa de cientistas canadianos defende o oposto que, tal como a imposição legal de quotas nas pescas, estaria mais próximo da prática dos predadores naturais. “Adotar outras políticas seria um grande desafio, mas as soluções técnicas para as pôr em prática existem”, reconhece Tom Reimchen, outro cientista da Universidade de Victoria pertencente à equipa que fez o estudo da “Science”. O estudo conclui que “são necessárias reduções mais agressivas na exploração dos animais de modo a imitar os predadores não humanos, porque só assim se conseguirão alcançar modelos de sustentabilidade a longo prazo”.
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