Chineses pagam 10 mil euros à Espanha por aeroporto que custou 450 milhões
O Aeroporto D. Quixote pretendia ser de mercadorias e lutar pelo tráfego excedente de Barajas, mas os ventos da crise derrotaram-no.
Idealizado no final da década de 90 como estrutura para mercadorias inserido num projecto de grande zona industrial, o aeroporto Ciudad Real, construído com cerca de 500 milhões de euros de dinheiros privados, e inaugurado em 2008, foi vendido por 10 mil euros.
A dimensão e ambição estão espelhadas na pista, que com os seus 4.200 metros de comprimento é das maiores da Europa, permitindo a aterragem de um Airbus A380. A 19 de Dezembro de 2008, levantava voo o primeiro avião comercial do aeroporto Dom Quixote com destino a Barcelona. Era o início de um projecto de apoio ao aeroporto de Barajas, o principal de Madrid.
A 29 de Outubro de 2011, finalizado o contrato que lhe dava subvenção pública para ali operar, a low-cost espanhola Vuelling – pertencente à Iberia –, a última companhia que ainda ali aterrava, deixou de usar o Dom Quixote. Outras, como a Ryanair, já ali tinham operado. Nas estruturas que ficaram sem utilidade estava uma passadeira com 500 metros, de ligação do terminal a uma das vias do comboio de alta velocidade (AVE, correspondente ao TGV francês), na linha de Madrid a Sevilha.
Nos últimos tempos – escrevia o jornal El Pais em Outubro de 2011 –, até o serviço regular de autocarros que fazia ligação ao aeroporto estava limitado aos momentos em que algum voo aterrava. Para chegar ali, um táxi custava 18 euros a partir de Ciudad Real, indicava uma reportagem do jornal no ano em que a crise estava no auge nos países do sul da Europa. Mais de 450 milhões de euros depois e com uma dívida acumulada de 319 milhões de euros, o aeroporto ficava sem utilização.
Agora, sete anos após o investimento e quatro anos após o último voo regular da Vuelling, o aeroporto de Ciudad Real foi vendido por 10 mil euros. Os compradores, um grupo investidor chinês, compromete-se a investir entre 60 e 100 milhões de euros.
Um valor aproximado dos mais de 100 milhões de euros aplicados pela Caja de Castilla la Mancha, acrescidos de créditos concedidos a accionistas privados. Uma Caja cujos gestores, aponta o jornal espanhol, foram consecutivamente nomeados por dirigentes do PSOE e do Partido Popular. E que foi intervencionada pelo Estado em 2008.