Marcelo considera que o líder do PSD passou a ser uma alternativa para primeiro-ministro, depois de ter decidido viabilizar o Orçamento.
No seu comentário semanal na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa fez uma análise de todo o processo negocial entre o Governo e o PSD com vista à viabilização do Orçamento.
O comentador deixa criticas ao Governo, acusando-o de ter ido para as negociações com vontade de "entalar" o PSD, de "agarrar" o partido social-democrata à redução da despesa. Mas, nota, "Catroga revelou-se uma "arma poderosíssima para inverter a lógica das negociações".
"Vamos entalar o PSD porque ele [Passos] vai ter, por um lado, que aceitar o corte dos vencimentos dos funcionários e o IVA a 23% e, por outro lado, quando ele vier querer baixar receitas vai ser obrigado a dizer onde é que corta. O PSD respondeu a isso com vários papéis feitos por Catroga dizendo quais as áreas em que se devia cortar, e não os sítios concreto. Deste modo, o PSD não se comprometia com nenhum corte concreto de despesa", explicou.
Diz Marcelo, que "o PS subavaliou a figura de Catroga, um avozinho simpático. De um lado e do outro estavam duas pessoas com cabelos brancos, mas um de feição simpática, que é Catroga, com boa telegenia, o outro carregado, por ter de dar más notícias aos portugueses há não sei quantos anos, Teixeira dos Santos".
No mesmo comentário, Marcelo afirma que "quem provocou a ruptura das negociações foi o PS", por uma "ninharia" de 500 milhões de euros, que era tudo o que correspondia às exigências do PSD. "O PS rompeu porque descobriu que estava a ser levado à certa. Tinha partido para as negociações a pensar: eu entalo o PSD, tiramos a foto de família, os tipos ficam comprometidos, Passos ao lado de Sócrates comprometido com o Orçamento e com o corte na despesa. E, de repente descobriu que não", disse.
Ao mesmo tempo, diz o comentador, surge uma sondagem - realizada entre 19 e 24 de Outubro - em que o PS cai dez pontos, mas o PSD sobe cinco ou seis pontos, ficando à beira à beira da maioria absoluta. "O PS cai porque as pessoas abriram os olhinhos e viram o que vem aí para o ano", defende. Já a subida do PSD, continua, "é o prémio a Passos Coelho pelo gesto de disponibilidade para viabilizar o Orçamento. Ao fazer isso dá um primeiro passo para primeiro-ministro. Passos Coelho pode ser alternativa. Até então não era óbvio que fosse alternativa".
Segundo Marcelo, foi a sondagem que obrigou Sócrates a reabrir as negociações. "Foi na quarta-feira que Sócrates percebe que não tem outro caminho senão fazer o acordo por muito que lhe custe engolir sapos", disse.
Marcelo classificou ainda de "caricato" o fim da negociação, com uma foto tirada com o telemóvel de Catroga onde ficou registada a assinatura do acordo. "É o cúmulo do requinte de Eduardo Catroga. Quase que fiquei com pena de Teixeira dos Santos entre sexta-feira à noite e sábado de manhã, porque se a ideia era, como os observadores diziam, já que tinha de engolir sem saber onde é que iria fazer os cortes para compensar aqueles milhões, que ao menos houvesse uma fotografia conjunta para comprometer o PSD. A única fotografia que existe é a de Eduardo Catroga", disse.
"Isto é um triunfo praticamente completo de Catroga em relação ao PS e a Teixeira dos Santos, invertendo a lógica das negociações, terminando com o PS entalado e com o PSD a cantar vitória com o desagravamento da situação dos portugueses", concluiu.
Crise política pode surgir em Abril
Considerando que com o acordo no Orçamento para 2011 resolveu-se um problema importante, Marcelo alerta que a dificuldade vai ser a sua execução, devido a dois problemas: Primeiro, muitos dos cálculos que o Governo fez na base deste Orçamento podem não bater certo para o ano, por causa dos efeitos recessivos do pacote de austeridade. Segundo, o défice este ano pode ficar acima da meta de 7,3% fixada pelo Governo, o que torna mais difícil baixar para 4,6% em 2011.
O também conselheiro de Estado lembra ainda que "o Orçamento para 2012 vai ser votado em dois momentos, em Abril, quando se votar no Parlamento o PEC que tem as grandes linhas que vão a Bruxelas e que inspiraram o Orçamento, e depois no fim do ano o Orçamento".
"Isto quer dizer que em Abril, conforme tiver sido a execução do Orçamento, aí, o PSD viabilizará ou não o PEC. Em Abril, Cavaco já pode dissolver o Parlamento", acrescenta.
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