Ourives que matou ladrão acusado de homicídio
Um ourives alvo de roubo à mão armada foi acusado de homicídio pelo Ministério Público, por ter disparado e provocado a morte de um dos assaltantes. Tudo aconteceu em Julho, num ataque à Ourivesaria Vilaça, na Trofa.
Apesar da resistência de Fernando Vilaça, de 57 anos, os assaltantes acabaram por fugir com artigos de ouro no valor superior a 204 mil euros.
Porém, o empresário e ex-militar da GNR logrou impedir que os encapuzados, com idades dos 16 aos 19 anos, lhe levassem as peças de ourivesaria que guardava num cofre-forte na sua loja, na freguesia de S. Romão do Coronado.
"Abre o cofre!", disse-lhe um dos quatro assaltantes, apontando-lhe uma caçadeira. "Não sei...", respondeu o ourives. "Então mata-se já o filho da p...", retorquiu o agressor, descontrolado. Segundo a acusação do Ministério Público de Santo Tirso, foram os colegas que impediram-no de disparar, colocando-se todos em fuga, com sacos cheios de peças.
Em desespero e descontrolado, Vilaça correu até ao escritório, pegou numa caçadeira e foi atrás dos agressores para tentar recuperar os seus valores. Seguiu-se um tiroteio entre o empresário e um dos assaltantes, que foi atingido no tórax. Por sorte, o empresário não foi atingido, mas as paredes do prédio ficaram com balas alojadas.
De imediato, todos fugiram aproveitando a "boleia" de um quinto comparsa, que vigiava os movimentos na rua, com um Renault Megane a trabalhar - e que fora roubado horas antes, em Paços de Ferreira, por "carjacking". A esvair-se em sangue, o assaltante atingido, de 18 anos, acabou por morrer cerca de uma hora depois.
Mesmo com o colega às portas da morte, o grupo não parou o raide de assaltos. Perante a falta de gasolina no Megane, roubaram, na Maia, um furgão "Volkswagen Caddy", no valor de 10 mil euros. Depois, deixaram o colega morto à porta de casa, no Bairro de Carreiros, em Rio Tinto, Gondomar, ao qual estavam ligados (ver página ao lado).
Concluída a investigação da Polícia Judiciária do Porto, os quatro jovens assaltantes foram acusados pelo Ministério Público por três crimes de roubo agravado e posse de arma proibida.
Enquanto isso, o ourives vai responder por crime de "homicídio privilegiado". Uma espécie de ilícito prevista na lei para os casos em que a actuação surge num estado de "emoção violenta, desespero ou motivo de relevante valor social ou moral, que diminuam sensivelmente a culpa" e é punível com prisão entre um a cinco anos.
Contactado pelo JN, o advogado do arguido, Hernâni Gomes, explicou estar a ponderar abertura de instrução, com vista a evitar a ida a julgamento. Isto porque acredita estar "em causa uma situação de legítima defesa". Todavia, uma ida a julgamento não invalida a hipótese de absolvição por legítima defesa.
Desde o assalto, Fernando Vilaça está ser acompanhado por um médico-psiquiatra. Fechou a ourivesaria e não voltou a trabalhar, devido ao trauma.
Os assaltantes estão todos em prisão preventiva - à excepção de um deles, posto por juiz em prisão domiciliária - e foram apanhados pela PJ uns dias após o crime. Um deles tinha sido detido no próprio dia, já que também tinha sido atingido pelos disparos do ourives.
Fonte: Jornal de Notícias