Cavaco aponta o dedo à Alemanha e à França
A responsabilidade da crise que ameaça o euro não pode apenas ser assacada aos países "financeiramente indisciplinados". Cavaco Silva lembra que foram Berlim e Paris que, já em 2005, enviaram "um mau sinal para os mercados". E que estão hoje a levar a Europa para uma deriva "errada e perigosa".
O Presidente da República desferiu esta tarde críticas ferozes contra o processo e os “julgamentos errados” com que se tem tentado gerir a crise da dívida soberana, lembrando que muitos erros foram cometidos no passado, inclusive por quem agora tenta reduzir esta crise ao resultado da irresponsabilidade de um punhado de Governos despesistas.
Falando em Florença, no Instituto Universitário Europeu que está a promover o ciclo de conferências “Europa em debate”, Cavaco Silva admitiu que a união monetária tem erros de concepção, desde logo por assentar numa “construção mais consistente na vertente monetária do que na vertente económica”.
Mas “o euro não é a causa da crise” e “foi a execução do Tratado de Maastricht, e do Pacto de Estabilidade e Crescimento que o veio complementar, que ficou aquém do que se exigia, por irresponsabilidade de governação dos Estados e por ineficácia das instituições europeias” que fizeram um “mau escrutínio do rumo das finanças públicas nalguns Estados”.
Apontando abertamente o dedo a Berlim e Paris, o Presidente recuou a 2005 para frisar que é “bom lembrar que a quebra de credibilidade do Pacto” foi provocada “para que passasse incólume a violação dos limites do défice orçamental por parte da Alemanha e da França”.
“Foi um mau sinal para os mercados: a União Europeia estava pronta a renunciar ao rigor dos critérios, em favor de considerações e circunstâncias políticas impostas por interesses nacionais”. “Não se atribua, portanto, a culpa da crise da Zona Euro ao Tratado e apenas aos Estados-membros financeiramente indisciplinados”.
Cavaco arrasa “directório” franco-alemão
Cavaco Silva – o único signatário do Tratado de Maastricht, adoptado em 2002, ainda em funções – voltou a apontar o dedo ao eixo franco-alemão a propósito do modo como, sucessivamente à margem dos demais, vão tentando impor soluções para a actual crise, sobrepondo-se e tornado irrelevantes as iniciativas da Comissão Europeia, a quem cabe, por inerência – sublinhou - a governação económica da Zona Euro.
Referindo-se (agora implicitamente) às sucessivas iniciativas e cimeiras reservadas a Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, o Presidente disse não esconder a “preocupação” com que tem assistido “à desvirtuação do método comunitário”.
“Em vez de uma mobilização convergente, e de uma responsabilidade solidária por parte de todos os Estados e instituições, vamos constatando a emergência de um directório, não reconhecido, nem mandatado, que se sobrepõe às instituições comunitárias e limita a sua margem de manobra”, acusou.
“Este é um caminho errado e perigoso. Errado por que ineficaz. Perigoso por que é gerador de desconfianças e incertezas que minam o espírito da união”, frisou.
“Vivemos horas decisivas”
Para ultrapassar a actual crise, disse, é fundamental recuperar a lógica que presidiu à fundação da própria União Europeia, em que os interesses nacionais foram enquadrados por um interesse comum. “Assim terá de ser, de novo, mais do que nunca, perante a crise actual, indiscutivelmente uma das mais sérias da história da construção europeia”.
Porque a crise do euro pode ser o fim do projecto europeu, avisou. “A União Europeia vive horas decisivas para o seu futuro. O que está em causa é o maior activo de que os povos europeus dispõem para fazer face aos desafios do presente e às incógnitas do futuro: a integração europeia”.
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