Nas tradicionais cerimónias de tomada de posse dos novos Governos, os primeiros-ministros elencam medidas e repetem promessas, mas as dificuldades do país são um tema que atravessa quase todos os discursos.
Há quase 15 anos, na tomada de posse do seu primeiro Governo, António Guterres falou da modernização da economia e da necessidade de aumentar a produtividade.
Contudo, o socialista que sucedeu a dez anos de ‘cavaquismo’ não esqueceu o momento que o país atravessava, garantindo ter “plena consciência” das dificuldades e advertindo que para as superar «não bastava governar bem».
Naquela altura, tal como acontece agora com o Governo de José Sócrates, Guterres tinha também em mãos um executivo minoritário e aproveitou logo a tomada de posse para enviar alguns ‘recados’.
«Tenho confiança no espírito patriótico, responsável e construtivo dos partidos da oposição, consciente como estou de que tanto valor têm, na vida política, o papel do Governo como das oposições», sublinhou.
Quatro anos mais tarde, na tomada de posse do seu segundo Governo, António Guterres elegeu a reforma da Segurança Social como linha forte do seu discurso, onde o Orçamento Rectificativo de 1999 e o Orçamento para 2000 também mereceram uma nota, com o chefe do executivo a prometer disponibilidade de meios para as mudanças programadas na saúde.
As contas públicas voltaram a estar em destaque na intervenção de Durão Barroso, em Abril de 2002, com o novo chefe do executivo de coligação PSD/CDS-PP, a propor um pacto nacional para o equilíbrio nacional e a apontar como primeira prioridade o “saneamento” total das contas públicas até 2004.
Pouco mais de dois anos depois, com a saída de Durão Barroso para presidir a Comissão Europeia, foi a vez de Pedro Santana Lopes chegar à chefia do Governo.
Consciente das «circunstâncias excepcionais» - a demissão de Durão Barroso para ir para Bruxelas - em que chegou ao poder, Santana Lopes prometeu “manter o rigor” na disciplina financeira, recusando seguir uma via eleitoralista.
Numa intervenção de cerca de 30 minutos, onde destacou a «rapidez sem precedentes» com que foi formado o seu executivo, o novo primeiro-ministro social-democrata falou também de assuntos mais concretos, defendendo a descentralização e deslocalização de alguns serviços da administração pública.
Apenas oito meses depois, tomou posse o primeiro Governo de José Sócrates, que prometeu que o novo executivo estaria à altura da maioria absoluta que tinha obtido nas urnas, a primeira maioria absoluta socialista no Parlamento.
Porém, advertiu, desde logo José Sócrates, o seu Governo teria a «sua agenda».
«Este Governo vem para cumprir o seu programa», sublinhou, numa intervenção que teve como curiosidade o anúncio de uma medida muito concreta: retirar às farmácias o exclusivo da venda de medicamentos sem receita.
Na quarta-feira, tomará posse o segundo Governo de José Sócrates, agora um executivo minoritário que terá que procurar acordos com a oposição para fazer as suas iniciativas passar na Assembleia da República.
Fonte: Diário Digital